Tivemos o prazer de entrevistar Jeamison Mozer, que começou sua trajetória como técnico e operador de drones e hoje atua como gerente na Indrone. Com uma vasta experiência acumulada, ele nos contou sobre os desafios de implementar essa tecnologia na agricultura, destacando as vantagens dos drones para otimizar as operações no campo. Durante a conversa, Jeamison abordou também os requisitos técnicos e regulamentares para o uso de drones no Brasil e compartilhou conselhos valiosos para quem deseja se especializar e prosperar nesse setor em crescimento.
Então, Jeamison, para começar, gostaria que você contasse um pouco da sua trajetória. Como você descobriu o mundo dos drones e o que o motivou a se especializar nessa área?
Ah, perfeito. Bom, eu já trabalhava na área de tecnologia, toda a minha trajetória está diretamente ligada a esse setor. Em um almoço de domingo com alguns amigos produtores, eles me apresentaram essa possibilidade.
“Jeamison, você é da área de tecnologia e há algo voltado para beneficiar os pequenos produtores. Estamos enfrentando uma falta de mão de obra gritante no campo. Estamos inseridos no mercado de café, onde há áreas críticas com déficit de mão de obra e dificuldades para realizar a pulverização manual.”
Então, eles me mostraram essa oportunidade e abriram o mercado para mim, destacando que o uso de drones fazia sentido, por diversos fatores, como a possibilidade de manter as pulverizações em dia e minimizar os problemas decorrentes da falta de mão de obra.
Antes de adquirir o drone, o que considero a parte mais fácil, fui para o campo para entender as principais dores e desafios, os momentos em que ocorrem, os alvos e as culturas em que o drone poderia ser útil ou não, e as concorrências com outros métodos de aplicação, como tratores, bombas motorizadas ou estacionárias, entre outros.
Com esses estudos em mãos, adquiri o primeiro drone e comecei a atender a região, especialmente os pequenos cafeicultores. A partir daí, fui expandindo para o sul da Bahia e, depois, para Minas Gerais, até me especializar em diversas culturas, focando mais na tecnologia de aplicação do que em uma cultura específica. Independentemente do tipo de cultura ou do estágio em que ela se encontra, conseguimos entregar os melhores resultados.
Depois disso, fui para Minas, onde conheci a Androni e comecei a atender algumas demandas como terceirizado, assim como fazemos na plataforma hoje. À medida que essas demandas foram crescendo, comecei a apresentar resultados superiores aos das equipes internas e, por isso, fui convidado para assumir a coordenação de operações e, posteriormente, a gestão da empresa.
E quais foram os principais desafios no começo da sua carreira? Como você os superou?
Os principais desafios foram inserir uma tecnologia nova na mentalidade dos produtores e convencê-los de que ela realmente funciona. Os chineses foram muito inteligentes em desenvolver esse equipamento, mas os produtores estavam acostumados com métodos tradicionais, como o uso de dois mil ou mil litros por hectare. Implementar uma técnica de aplicação com ultra baixo volume foi um desafio.
Além disso, havia a questão da falta de mão de obra qualificada para assistência técnica e manutenção de peças, o que exigiu desbravar esse mercado, entender a tecnologia de aplicação e o equipamento a ponto de me tornar um especialista. Afinal, era necessário transmitir essas informações para outras pessoas; não poderia pilotar drones para sempre.
Por isso, optei por focar mais na gestão. Minha experiência anterior já era na função de gestor em outras empresas, então precisei entender também o processo de gestão de uma empresa de aplicação aerodinâmica, formar minhas equipes e realmente empreender no negócio. A visão de empreendedorismo relacionada aos drones consiste em convertê-los em uma ferramenta de geração de receita, e não em um equipamento que só gera despesas e custos elevados.
Agora, falando de drones, na sua opinião, quais são as principais vantagens deles na agricultura em comparação com os métodos tradicionais?
Perfeito. De maneira geral, o drone não vem para competir com os outros métodos de aplicação, mas sim para complementar os modais tradicionais.
Mas as vantagens que eu vejo no uso de drones, independentemente da cultura agrícola, são claras. Ele não concorre com os outros métodos de aplicação. Por exemplo, nas regiões montanhosas com cafezais, a aplicação manual é comum, mas muitas vezes não é possível atender à demanda no tempo certo para a planta. Tratores não conseguem alcançar terrenos íngremes. Além disso, o uso de drones traz benefícios em termos de produtividade, pois evita o amassamento, quebra de galhos, perda de frutos no caso do café e compactação do solo, problemas que já estão amplamente mapeados.
A principal vantagem do uso de drones é a possibilidade de realizar uma cobertura uniforme e precisa no momento certo. Independentemente do tipo de terreno, a planta será realmente protegida e beneficiada em todas as suas partes, independentemente do declive do solo.
Quais são os requisitos técnicos e de regulamentação para operar drones no Brasil?
Atualmente, há uma consulta aberta no Ministério da Agricultura sobre algumas alterações na Portaria 298, de setembro de 2021, que rege essa atividade. Cada estado possui sua própria legislação, estabelecida pelos órgãos estaduais de defesa, e alguns ainda exigem licenciamento ambiental, que é responsabilidade das prefeituras. Portanto, há estados que não possuem regulamentação específica e seguem apenas a Portaria 298.
De acordo com essa portaria, toda operação no campo deve contar com pelo menos um operador com o Certificado de Aplicador Aeroagrícola (CAAR), que pode ser o piloto ou o auxiliar. Os órgãos mais relevantes para essa atividade são os de defesa vegetal, além do Ministério da Agricultura e do IBAMA, com a defesa vegetal estadual exercendo papel importante. Os drones são regulamentados e certificados pela ANAC, DECEA e é fundamental o envio mensal de arquivos pelo sistema eletrônico de informações, o SEI.
Qual conselho você daria para quem está começando a se tornar técnico ou piloto de drone?
É importante entender que muitos aplicadores começam e saem rapidamente do mercado, pois foram mal orientados e receberam uma visão ilusória da realidade. Essa visão muitas vezes vem de vendedores de drones que pintam um cenário muito bonito, mas irreal. Nosso papel é desmistificar isso. Não apenas regulamos, mas também inserimos o operador no mercado, oferecendo serviços e conhecimento.
Estamos presentes e ativos na legislação do setor, sempre atentos às mudanças e em contato com nossos associados para informá-los sobre novas normas, produtos licenciados para pulverização aérea e compatibilidade de produtos. Mostramos que é possível transformar o drone em uma máquina lucrativa de forma consciente e sustentável. Nosso trabalho é fortalecer esse ecossistema para torná-lo cada vez mais sustentável.
Como você enxerga o futuro dos drones na agricultura?
O futuro dependerá muito da capacidade dos operadores de buscar o melhor e se especializar, em vez de simplesmente voar por voar. Muitos no mercado hoje operam sem entender o que estão fazendo. O verdadeiro “cliente” é a planta, não o produtor, pois é ela que necessita de nutrição, controle e prevenção. Se o operador não sabe exatamente o que está fazendo com o drone e os produtos utilizados, deve procurar empresas como a Indrone, que podem inseri-lo no mercado de forma consciente e sustentável. Aqueles que não se preocupam com a legislação, com as exigências do mercado, com os órgãos reguladores, produtos, culturas e condições climáticas adequadas para a aplicação, inevitavelmente sairão do mercado.